quarta-feira, 13 de junho de 2007

A omissão de dados de pesquisa é autoritarismo que fere, manipula e comete crime contra a independência da pesquisa científica na Universidade

O artigo do senhor Roberto Barbosa, secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, é uma ofensa à Universidade e á pesquisa científica, pois questiona, sem o menor embasamento, resultados de estudos sérios desenvolvidos por uma equipe de pesquisadores de alto gabarito da Universidade Cândido Mendes, parceiros em pesquisas e no Programa de Pós-graduação em Políticas Sociais da UENF, justamente porque são reconhecidos no meio acadêmico científico pelos seus trabalhos, inúmeros já publicados e apresentados em eventos nacionais e internacionais.

Além disso, o autor fere a autonomia universitária, quando tenta subjugar a pesquisa científica aos interesses do poder dominante e à política partidária mais vil que é a praticada aqui em Campos dos Goytacazes, onde os responsáveis pela gestão municipal utilizam os cargos mais em seu próprio benefício do que em prol da coletividade.

Ora, sugerir que a participação de uma Universidade, no caso específico, da UCAM a um programa de apoio ao ensino da Prefeitura deva estar condicionada ao apoio incondicional ao grupo político que está à sua frente, e até mesmo à omissão de dados de pesquisa e da análise científica dos mesmos, é autoritarismo, é mais do que ferir, é manipulação, é crime contra a independência da pesquisa científica e autonomia da Universidade.

Por fim, gostaria de saber de fato para onde mais, então, estão indo os recursos dos Royalties, pois eu, enquanto estudiosa do processo de urbanização e pesquisadora da cidade de Campos dos Goytacazes, só tenho constatado desigualdades no seu espaço urbano. Enquanto bairros centrais recebem obras de urbanização, inúmeras favelas vêem aumentar seus “barracos”, sem água, esgoto, os bairros periféricos continuam sem praças, sem arborização, sem ruas pavimentadas, sem saneamento básico, comprometendo a saúde pública. Além disso, o nosso patrimônio artístico, cultural e arquitetônico vem sendo destruído, entre inúmeros outros problemas, conhecidos não só por nós estudiosos da cidade e do urbano, mas por toda a população, sobretudo a mais carente.

Se os royalties estivessem sendo aplicados devidamente, esta nossa cidade seria um exemplo não só para o Brasil, mas para o mundo e ainda estaria estruturada para abrigar as gerações futuras!

Todo apoio à UCAM que muito tem contribuído para o avanço da pesquisa e do debate – democrático, claro - acadêmico-científico e também político.

Teresa Peixoto Faria
Professora da UENF
Chefe do LEEA
Diretora eleita do CCH

2 comentários:

Bruno Lindolfo disse...

A época de provas se aproxima e estarei, portanto, me ausentando dos debates e discussões. Deixo o que considero a síntese do que foi exposto aqui e, no entanto, carece de respostas. Acredito que sejam pontos cruciais, importantes, e que merecem reflexão.

1- As pesquisas realizadas pela UCAM são fundamentadas tecnicamente e com reconhecimento nacional, logo, a contraposição destas pesquisas deveria também ser feita de forma técnica;

2- Se o objetivo é o debate, o secretário deveria, desde o início, ter convidado para seu programa os técnicos da UCAM, para que estes prestem esclarecimentos acerca de suas pesquisas;

3- Mais transparência e critérios no que tange à repartição dessas verbas para as universidades. Existem critérios? Em caso afirmativo: publicar no Diário Oficial do Município quais sejam estes critérios, juntamente com o nome dos alunos bolsistas;

4- Ainda assim, o direito de pesquisa de toda e qualquer universidade é livre, como o direito de antítese o é. O interesse que prevalece é o do aluno: sua vontade não pode ser sobrepujada porque a Prefeitura sente-se molestada, de alguma forma, pela instituição de ensino de escolha deste aluno;

5- Porque não há contrapartida social dos bolsistas? É uma forma de incutir noções de cidadania, inculcando neste indivíduo preceitos de responsabilidade e dever social, contribuindo para formar um cidadão mais crítico e melhor situado em seu espaço social;

6- Tudo isso poderia ser evitado, caso a PMCG, cedendo aos apelos públicos, adotasse o orçamento participativo, previsto por lei, e feito às claras - diferentemente do que foi feito no passado.

Abraço para todos.

Quasepoesia disse...

Roberto
O seu artigo de hoje na fmanha é magnifico e lamentável.
Magnifico porque coloca de forma clara e limpa os adjetivos certos neste pau mandado de uma horda de gente cruel que enlameia nossa cidade.
Lamentavel por ver a cidade nas mão de párias morais como esses, cujo pirata não caribenho é somente uma mostrinha...
Recordo-me que em 2006 recebi licença de minhas atividades na PMCG alem de um auxilio dispensavel de 600 reais para passar 3 dias no Rio fazendo um curso de interesse comunitário que me permitiria ser agente, junto de outros amigos daqui que também foram, de uma experiencia chamada Unidade Basica Amiga da Amamentação.
Fiz, empolgado, o curso.
Embora tenha recebido 600 reais e faltado meu trabalho, nunca fui chamado por elemento algum da PMCG para ajudar na criação da referida Unidade, que nunca saiu do papel, privando a população de um beneficio absolutamenta alcançável.
Roberto.
Nossos dirigentes creio que tem nojo do povo.
Se não tem, demonstram, com atitudes como essa, que a população não faz parte de seus projetos, a não ser quando pode ser usada para gerar beneficios para aqueles.
Vivemos num mar de lama.
Qualquer coisa que se descubra ou se discuta será somente a ponta de um imenso iceberg de podridão e nojo.
Deus tenha piedade desses larápios.
Fica com Deus, amigo.
:)